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À espera de um milagre

Para o mundo, quase que nem sentiu a tua perda.

Afinal quantos não partem, sem sequer sabermos.

Sem sentirmos. São os outros. Alguém vai chorar por eles. Há sempre alguém para chorar por eles, certo?

Sabemos que é definitivo, podemos até sentir pena, compaixão. Tentamos colocar-nos no lugar deles e percebemos que não conseguimos aguentar.

Então levantamos a cabeça, seguimos em frente e meio que esquecemos que a partida existe, e que nos leva a todos, e que para os que ficam, será sempre uma ferida aberta.

Algo que fica a consumir-nos, a destruir-nos, enquanto tentamos à força toda viver o mais plenamente possível.

Afinal viver é isso, não é? Viver desenfreadamente até que a morte nos pare.

Mas aí, tu partiste e o meu mundo desmoronou.

Ficou em pequenos cacos, impossíveis de restaurar.

Apenas me transformou.

A tristeza fez ninho dentro de mim.

As dores dilacerantes que me percorrem o corpo, chegam a paralisar-me, tantas vezes, que os dias vão passando, a vida vai correndo e eu continuo no mesmo lugar…

À espera de um milagre.

À espera que Deus se tenha enganado. Que tenha percebido, que as mães não são para ele. Que as mães são para ficarem sempre junto dos filhos.

E não, não me chega saber que te tenho no coração, sempre.

E não, não me chega os anos todos em que te tive em carne e osso.

E não, não me chega saber que estás do meu lado, sempre…

Estarás?

Os dias vão passando, os meses vão passando, os anos vão passando…

Paraste de envelhecer.

És uma lembrança. Alguém que ficou congelado no tempo.

E isso não me chega, porra!

Nunca vai chegar. É apenas um consolo, para que a ferida aberta que há em mim, deixe de doer tanto, pare de sangrar por algum tempo…

Mas a verdade é que nunca nos habituamos à partida de quem amamos.

Nunca.

É a vida, dizem!


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